6/06/2007

Tomorrow

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O tempo voava e sentia-se pequena por isso. Doía-lhe o corpo pelo esforço físico que tinha feito na última batalha que viveu. Era difícil combater contra o tempo e desta forma, pouco havia a fazer. Parecia-lhe que o próprio espírito até se tinha tornado pesado.
Eram tantas, tantas coisas a fazer que quase não cabiam no tempo assim previsto. Os pensamentos rodopiavam a uma velocidade alucinante, as palavras saíam-lhe gaguejadas e as acções, umas atrás das outras, embrulhavam-se numa rede complexa de mecanismos que exigiam ser perfeitos.
Tenso, assim ficava o corpo consoante os afazeres obrigatórios que na agenda estavam impostos. Ia riscando-os à medida que os concluía.
Aos poucos, entrou naquele ritmo de trabalho que lhe consumia todos os segundos, minutos ou horas. No final do tempo de um dia, chegava a casa um pouco entontecida com tanta pressão criada por si e pelos outros.
Era sim, no final do dia que se sentia premiada. Chegava-lhe a casa aqueles braços desejados que a consolava e acalmava. Pensava nisso, várias vezes durante o dia: receber aquele abraço apertado que lhe dizia, em voz baixinha: “Hoje o dia foi complicado, mas amanhã verás que será diferente, será melhor, meu amor...”


Imagem: John William Waterhouse - Psyche Entering Cupid's Garden.
*Patrick Wolf - provavelmente, o melhor a actuar no festival sudoeste.