12/27/2007

Past Tense I # Ficar




Eu vou conseguir ficar?

Past Tense kisses


Ouvi dizer, que o beijo é uma rima de lábios.

Imagem: James Jean, Jack 9 Sketch.

12/26/2007

Mudar


Há quem espere uma vida inteira.
Há quem não vê aquilo que tem e deseje outra coisa.
Há quem tenha quase tudo, mas o quase é a peça do puzzle que falta.
Há quem não espere nada de nada.
Há quem diga que quer mudar, mas não tem coragem.

Há quem tenha coragem de mudar tudo e depois ouve estas coisas:

“- Tu vês a luz no túnel e pensas que é desta que vais mudar de vida. E quando já estás no meio do caminho, vês essa luz mais próxima. Mas afinal, é o comboio que vai ao teu encontro.”


E ouve-se isto e fica-se na......


Imagem: capa do album Garden Ruin dos Calexico.

12/17/2007

Willd horses, we'll ride them someday



Vou pelo caminho um pouco com medo de ser apanhada por ti, mas, são esses olhos ternos que me apanham quando tento fugir. Penso: não me vou denunciar, hoje não. E olhas-me mais uma vez, com esse teu ar de menino ternurento e com as palavras certas na boca para me incendiarem uma vez mais. Tu sorris e falas de nós. Fecho-me em copas e digo que o nós é qualquer coisa que não existe.
Escuto esse tua respiração e respiro-te: sabes-me bem.
Quero-te.
*
Fujo.

*
Quero-te.
*
Fujo.
Sigo, habituada a este semáforo entre o coração e a cabeça, entre a acção e o pensamento. Sei que são mais sinceros os meus pensamentos na ausência das minhas palavras.
Vou seguindo e fugindo do teu olhar, fugindo do nós que existe em ti e de tudo aquilo que eu gostaria de acreditar...
Imagem: J. W. Waterhouse - Boreas.

12/11/2007

Don't listen, don't care



"Penso: não vou chorar, e caem-me as lágrimas pela cara a baixo. Sou uma mulher bonita. Obrigo-me a dizer alto: sou uma mulher bonita. No espelho limpo as lágrimas, lavo a cara, visto-me. Tantas coisas que eu não percebo, tantas coisas que me passam pela cabeça, que eu sinto no corpo, tantas vozes e palavras e coisas que nem chegam a ser propriamente palavras que eu não percebo, que eu não sei, nem consigo ver o que me acontece, onde estou, que merda é esta em que estou metida, a minha vida, vou pela rua e não sei nada, não sei nada meu deus, eu não sabia que era assim, que podia ser assim, o que é que eu faço, não vou chorar, mais não, aqui não, não vou chorar mais, acalma-te Mariana, acalma-te, é isso: vou-me acalmar e depois vou simplesmente entrar no café e comprar um maço de cigarros. E estou-me nas tintas se olharem para mim ou deixarem de olhar e se dizem coisas."
Excerto do Livro Abre para Cá de Jacinto Lucas Pires

Ps.: Gosto de pensar que não sou a única com estas crises! Tenho mesmo que sair daqui, talvez, um "Abre para Lá".

11/25/2007

"Os beijos merecidos da Verdade"


O mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
'Splendia sobre sobre as naus da iniciação.

Linha severa da longínqua costa
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstracta linha.

O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp'rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte
Os beijos merecidos da Verdade.

Fernando Pessoa


Imagem: Matts Roos - Horizon (2000).

10/25/2007

The unnamed thing

Edward Hughes, In the Grass



:)

10/17/2007

Se...


Eram controlados aqueles gestos de súbita paixão crescente. Os dias que passavam, preenchiam-se com o vício de estarem presentes por palavras ou por imagens. Os dedos, quase mecânicos, escreviam a história em caracteres, enquanto que, a boca ditava afectos por entrelinhas. Acordados pela imaginação daquele estado emergente, contornavam as leis da física que, se esbatiam num abrir e fechar de olhos perante um futuro incerto. Permaneciam assim. Dentro de si, vagueando tão perto da palavra nós, como se de uma âncora tratasse. Indubitavelmente, pensavam como seria, se permitissem o amor...

9/05/2007

Silent hands


Lentamente, pousava os olhos na palma das suas mãos. Talvez esperasse ver mapas que a levassem voar para sítios reconfortantes, semelhantes a ideias melosas a saber bem. Daquelas mãos, vinha-lhe à memória outras mãos que a seguraram no calor dos momentos. Recordações no baú da história que um dia ganharão pó, consoante a caminhada a seguir na calçada da sua vida.
Mas aquelas mãos estavam cheias de nada, soltas e descaídas no vazio arrepiante daquele momento, o único, que a segurava.
Sofregamente, entrelaçava os seus dedos, fazendo distorcer, por momentos, a realidade que a fitava com demónios chamados de solidão. Era aquela ausência, o intervalo do tudo que sentia, que a devorava, desprovido de qualquer sentimento de piedade. Como era difícil suportar a dor daquela queda, oriunda de tanto amor?
Restava-lhe o tempo dos afectos feridos, espalhados por tudo quanto é chão. Era o tempo de tanta coisa interdita, traçado em cada linha das suas desamparadas mãos.

All these people drinking lover's spit
Swallowing words while giving head
They listen to teeth to learn how to quit
They take some hands and get used to it
(…)
You know it's time
That we grow old and do some shit
I like it all that way
I like it all that way*


*Feist -
Lover's Spit
(Broken Social Scene).

9/01/2007

Tão Perto de Ti...



(...) Todo aquele tempo me ficou na memória como se o tivéssemos vivido numa paisagem gelada. As imagens deslizavam, gelatinosas, com a lenta e elegante paciência da garupa de uma duna no deserto. Nunca, em nenhum dos dias vividos depois, deixei de saber que as coisas que não aconteceram tinham tido tanta intensidade como as que foram reais.
Esta é a história de uma relação que não sei ainda se existiu realmente. Tudo brotava, dia a dia, em cada encontro, com a sobriedade e a contenção de sentimentos que ninguém saberia dizer se eram de alegria ou de solidão.
Nos nossos encontros, falando de coisas que no mundo nos aconteciam, eu pousava os olhos nos grãos de açúcar caindo-lhe no café, na comissura dos seus lábios, no seu jeito de pegar na colher, (...).
Era como se estivesse a olhar para uma fotografia dos meus pais quando eram namorados. A minha lembrança da sua maneira de estar, que não conseguia esconder uma certa forma de ternura, tinha a nitidez de uma boa fotografia a preto e branco.
A paisagem da cidade povoou-se rapidamente de bares, restaurantes e cafés que foram a nossa casa. Nunca estive tão isolado no meio de tanta gente. Nunca busquei tão intensamente aquilo que não esperava encontrar. Nunca me senti tão invariavelmente esgotado depois de cada encontro. Era como se tivéssemos feito amor. (...)

* "Tão Perto de Ti..." de Jordi Nadal .
Imagem: Brent Hume - Morning Coffee.

8/23/2007

Cá estamos nós outra vez

Uma coisa tinha conseguido: voltar diferente. Pousava as malas na sala, enquanto, olhava os pormenores em seu redor.
Sentou-se e encheu os pulmões com mais uma lufada de ar. Encontrava-se numa espécie de transe. Meditava na sua viagem e nas palavras sábias de cada um. Balançava-se nelas e apoiava-se numa ou duas por aí. Sentia que a metade do seu corpo, o seu espírito, só voltaria na próxima semana e muito provavelmente, ele ainda estaria a arrumar a mala no outro lado da barreira.
Tinha questões por resolver, de momento. Mais uma lufada de ar inspirada. Na sua mente, cantarolava Jorge Palma, pensando que também tinha na boca o coração apertado com beijos a 50 e tal graus mas por arrefecer, por reprimir na vontade do desejo. Aos poucos, construiu o cenário, as deixas e o filme. Sentiu-se mais segura e prosseguiu naquela encruzilhada.

Aquela outra metade, demorou duas semanas a chegar. O seu corpo já estava com saudades. Olhou para o espelho e decidiu que estava pronta para uma nova caminhada. Era uma constatação amadurecida, enquanto dizia baixinho: - Afinal não me perdi pelo caminho, apenas, o reencontrei.

"(...)Nesta outra encruzilhada,
talvez agora a coisa dê.
O passado foi à história
Cá estamos nós outra vez."
J.Palma

8/21/2007

No escape this time from you



Entregava-se aos beijos como se fossem dele. Daquele que ela sempre conhecera e admirara. Mas não eram. Eram beijos fáceis e sem sentido...
Chegava a casa, um pouco zonza, um pouco surda e muda.... Tentara esquecê-lo nos beijos d’alguém, nos abraços d’outro que não a preenchia tão bem.
Em tudo, em tudo, lhe faziam voar ao outro país, tão distante como talvez um outro mundo. Como tinha saudades daquele mundo só seu, partilhado e construído com alguém tão especial.
Muros e muros, barreiras sem fins, eram o seu presente afinal. Ninguém era capaz de ousar atravessá-los, de conquistá-los.
As pessoas teimam em coisas fáceis, em coisas sem fins, sem planos.... Como é a vida, tão fútil assim? Não basta uma cara bonita, um sorriso lindo... Não basta isto, não basta nada. Basta simplesmente, ser. Ser alguém que quer, que luta e que ama.
Tinha saudades d’aquele mundo que a preenchia. D’aquele mundo que ela se orgulhava, d’aquele mundo que amava...
Refugiava-se na música, no seu Schenker, que a entendia tão bem...


Imagem: Van Gogh - Starry nigth
.

8/12/2007

Importância do sentido


"I really can't believe that I forgot how to run away

Put this time away

I want to live today"
by idaho

8/01/2007

Should I take that risk or just smile?




"Para analisar uma obra de arte, é preciso afastarmo-nos..."


- Sabes que o tempo é um beijo demorado e venenoso?

Sei com que pés te mexes, com que mãos te agarras. Só não sabes, que esse veneno é uma merda qualquer que já te percorre nas veias, consumindo os teus limites.

Imóvel, assim ficas porque foi esse o beijo que te levou à tua própria loucura indefinida. E os teus fantasmas dançam, bailam porque te vencem. Só não me tornes num fantasma teu, porque a vida é para ser vivida sem fantasmas a vencerem o presente.

Conheço-te? Sim, perfeitamente. Porque nesta montanha russa em que vivemos, eu observei-te. E eu deixei-me ficar ali, também imóvel mas com a alma livre. Tão livre porque se definiu o meu futuro. Ali estava a porta aberta, pronta para me dar as boas vindas e me mostrar muito mais para além de ti. E pelo caminho aberto, folgo em saber que ficarás bem algures nesse teu mundo. E em tom de despedida, deixo-te tudo aquilo que fui para ti,de igual modo, como foste para mim. É justo.
Boa sorte, my friend.


7/25/2007

Viagem



Levou na memória aquele tempo interdito, aquele tempo destinado à reflexão que a consumia em momentos. Vagarosamente, continuou numa caminhada desalinhada, sem planos, sem projectos para um futuro, porque esse que ousara sonhar, sabia-lhe a um recente sabor amargo, entranhado no seu coração...
Vivia então, numa balança indefinida de emoções, que desejava esquecer. Esquecer.
De bagagem arrumada, retornava ao sítio do seu coração, buscando consolo nos braços dos amigos que nunca a esqueceram e que sempre a mimaram. Necessitava daquelas emoções fortes que a fariam pensar e ver a sua situação actual com outros olhos e com mais clareza. Buscava o conforto, o alimento para a sua alma.
Voltar diferente. Talvez um pouco mais despreocupada, um pouco mais imperfeita. Um pouco mais livre na sua maneira de pensar. Voltar a si.

Imagem: Johannes Vermeer - The Girl with the Pearl Earring


7/16/2007

Love with tongues of fire

(Viver o amor, é também construir alicerces para um futuro seguro. É acreditar que chegarão lá, mesmo com tempestades e tormentas.)
Descaiu-se nas palavras como quem cai pelas escadas. Saíam a medida que a alma ficava-lhe mais leve e mais triste. Não sabia ao certo, se aquele alívio lhe iria trazer um novo peso: o da tristeza.
Com o coração preso à garganta, repetia vezes sem conta, a vontade de tornar tudo mais diferente, mais calmo. Eram situações que já tinha vivido no seu passado, experiências que, se calhar, foram pouco aprendidas.
Ficava um pouco vazia de si; ansiava aquelas palavras proferidas do outro lado, como quem anseia água num deserto.
Eles seguiam vidas juntas, com formas de viver separadas. O que será que fizeram dos seus sonhos? - Refugiaram-se, talvez, no medo de um futuro...

Chegou ao final do caminho ou talvez de uma encruzilhada, descaiu-se nas palavras como quem cai pelas escadas... Será que se salva ou morre nas suas palavras?
Imagem: Munch

7/07/2007

Sinais

Há um sonho que se desfaz com as passadas do tempo – dizia ela. Mergulhava nele e contornava-o com risadas de outros tempos, envoltos na loucura fervilhante da paixão. Esquecia o tempo de agora, como que embriagada propositadamente.
(...)

Poderia ser só os hábitos ou as rotinas que a faziam descair até ao patamar mais baixo que conhecia: o da solidão.
(...)

Queria dizer-lhe alguma coisa, talvez ele a pudesse tirar de lá, mas havia palavras que ela própria sabia que não deveria de as dizer. Há que saber ler as pessoas, pensava.
(...)

Talvez seja mesmo assim: o amor vai morrendo lentamente, quando as suas linhas não são lidas continuamente...

6/06/2007

Tomorrow

*

O tempo voava e sentia-se pequena por isso. Doía-lhe o corpo pelo esforço físico que tinha feito na última batalha que viveu. Era difícil combater contra o tempo e desta forma, pouco havia a fazer. Parecia-lhe que o próprio espírito até se tinha tornado pesado.
Eram tantas, tantas coisas a fazer que quase não cabiam no tempo assim previsto. Os pensamentos rodopiavam a uma velocidade alucinante, as palavras saíam-lhe gaguejadas e as acções, umas atrás das outras, embrulhavam-se numa rede complexa de mecanismos que exigiam ser perfeitos.
Tenso, assim ficava o corpo consoante os afazeres obrigatórios que na agenda estavam impostos. Ia riscando-os à medida que os concluía.
Aos poucos, entrou naquele ritmo de trabalho que lhe consumia todos os segundos, minutos ou horas. No final do tempo de um dia, chegava a casa um pouco entontecida com tanta pressão criada por si e pelos outros.
Era sim, no final do dia que se sentia premiada. Chegava-lhe a casa aqueles braços desejados que a consolava e acalmava. Pensava nisso, várias vezes durante o dia: receber aquele abraço apertado que lhe dizia, em voz baixinha: “Hoje o dia foi complicado, mas amanhã verás que será diferente, será melhor, meu amor...”


Imagem: John William Waterhouse - Psyche Entering Cupid's Garden.
*Patrick Wolf - provavelmente, o melhor a actuar no festival sudoeste.

5/09/2007

Novo dia


Vagueava por aí, um pouco solta e um pouco sem destino que a fizesse se sentir mais preenchida. A imagem que tinha de si, era a de uma jarra vazia e talvez, bonita por fora. Nem sabia bem como se preencher... Por isso, vagueava por aí sem pretensões de se sentir completa, coisa essa, que de vez em quando, mas só de vez em quando, lhe surgia inversamente na sua mente.
As horas, por serem verbos de acção no tempo, colmatavam os pensamentos foragidos que de uma vez ou noutra, lhe escapavam até ao passado.
Pensar no Passado ou falar dele, era para si uma história do tempo da avozinha, visto que no seu presente, tudo é diferente, tudo é como aquilo que não poderia ser. Ou não deveria ser. Pensava em fugir várias vezes daquela prisão, que de tão grande lhe parecia ser do tamanho de uma ervilha. Como lhe doíam as asas... Doíam-lhe, não por causa do espaço mas sobretudo, por saber que as tinha e não conseguia dar asas a sua liberdade física. Era como um pássaro, mas que em vez de ter duas patas, tinha raízes. Era o preço que pagava, por ter um espírito nómada incorporado num corpo preso a situações alheias.
Talvez por tudo o que tinha vivido até então, deixou de acreditar em pequenas coisas, quais filosofias... De um sentimento de esperança, foi nascendo em si um sentimento de fragilidade. E dessa fragilidade na alma, foram nascendo ervas daninhas naquele espaço a que ela chamava de coração.
O que ela desconhecia, talvez por distracção, era que o tempo lhe amadurecia o seu saber ou lhe fortalecia a sua vontade de viver. Por mais triste que a vida possa ser (porque nem sempre a vida é grata), há sempre um dia novo a nascer. Um dia, que pode ser diferente. Pode ser um começo melhor que os outros. Porque há esperas sem sal, que se tornam em doces tempos de viver.
"The sky is lit up
Day will be richer than night
So dont think of yesterday
Its here and now
It's a, it's a, it's a...new day
It's a, it's a, it's a...new day".

Dedicado a uma grande amiga, que é cheia por dentro, bonita por fora. Esquecida. Fugaz na sua maneira de viver. Brilhante por vezes e escura, quando se torna pessimista e dura consigo. Só não sabe que há pequeninas coisas que acontecem por acaso. Por uma razão bastante óbvia. Um novo dia, é o que te desejo. E esse dia, pode ser hoje.
Imagem: Van Gogh.

5/03/2007

In-in


Sem sabendo a razão do porquê, voltou-se para si numa busca microscopia fora de tempos. O passado foi o tempo que passou mas, de vez em quando, apanhava-a algures na estrada da vida. Certamente, não seria esse o caminho mais correcto a seguir, mas era, sem dúvida, o melhor caminho para se conhecer melhor. Prosseguia nas metades do tempo do que foi e do que poderá ser...
Imagem: Léger, Fernand - "Mulher de Vermelho e Verde".

4/20/2007

Perdoem-me



.... mas só me apetece rir.


4/16/2007

Happy Birthday Miss Shhh!


Com anos a passar e outros a chegar, é tempo de se ganhar juízo. A Shhh está com a idade mas não está com aparência. Ainda bem! É sempre bom ouvir que nos dão 7/8 anos a menos do que aquilo que se tem.
Em tom de desabafo, este foi um dos melhores aniversários que tive. Que venham mais! ;)






4/09/2007

Bombordo


Se o sítio era de magia, as palavras valiam muito mais que isso. Rompiam paredes de aço e melosas, caíam dentro do ouvido a bombordo, lado do coração.
Muito mais do que olhares ou toques, traziam consigo a verdade de sentimentos semeados e colhidos pelo tempo contido, pois as melhores coisas vêm sempre do nada.
Seguiam no Oceano Atlântico, por entre abraços e palavras de amor, numa entrega quase absoluta ou inquestionável. A vontade, era aquela de percorrer a mesma rota juntos, ao sabor daquela brisa, salgada por fora mas doce por dentro. Seguir sempre.

Imagem: BUXTON, David - A Couple Sailing.

4/03/2007

Magic Land


Dizem que é uma terra mágica, onde os sentimentos brotam como fontes divinas. Soltam-se. Ouvi dizer, que é lá que o coração fica mais perto da boca sem nenhum elixir consumido. Foi lá também, que Colombo casou e viveu durante uns tempos. É um sítio dourado*...
Aproveito para informar, que este covil vai fechar durante uns dias. Eu vou para essas bandas onde magia paira no ar. Por aqui, vive-se.

*Entretanto, descubram por onde ando... ;)

3/26/2007

É isso aí...


Era quase uma certeza que ganhava corpo com passar do tempo, murmurado apenas por quem sente.
Sentavam-se frente a frente, emudecidos perante tamanha cumplicidade de um destino que os fez juntar.
Como que aprovados pelos olhos, faziam das juras, compromissos de entrega selados com a intenção de caminhar juntos, enquanto houvesse caminho por desbravar.
Chegavam sempre um ao outro, com mil histórias de beijos na ponta da língua e com mil sedes por saciar no lençol de água, que corria como o sangue nas suas próprias vidas.

E não se cansavam, não paravam de se olhar...

3/20/2007

Post-it Soul


Escondeu-se, num dos cantos da alma. Talvez se assustou com o turbilhão de pensamentos que tomavam conta de si. O que fazia não era bem aquilo que dizia, aliás, as palavras que lhe faltavam pronunciar, sabiam-lhe a pouco.
Imóvel, aguardava os passos da vida, enquanto o toque fugia-lhe das mãos e as palavras, essas, guardava-as só para si. Escrevia-as nas paredes d'alma do seu existir, para que nunca se esqueça delas num desses dias que há-de vir. Para que nunca lhe faltem, tal como, ela faltou numa dessas noites, em silêncios suspirados.
Imagem: Renoir - Young woman with a veil.

3/10/2007

Encontros & despedidas

"(...) Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero
Todos os dias é um vai e vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
É assim, chegar e partir
São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
também é despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida .... (...)*

* Maria Rita - Encontros e despedidas.

Imagem: Bedford, Whitney - Encontros e despedidas.

3/06/2007

Inner scar


"True self is the part of us that does not change when circumstances do."



Imagem: Malevich, Kasimir - Black Circle.

3/02/2007

Encontros




Ela desce no elevador que vai dar à entrada do prédio. Ele espera-a pacientemente, como quem espera um fruto amadurecer. Os seus olhos brilham com a chegada prevista e, de certa forma, o que vê é melhor do que as visões imaginárias que ele teve durante o tempo de espera. Nasce qualquer coisa dentro de si, sempre que a vê. Derrete-se. Delicia-se...
- Paixão?

Imagem: Bluemner, Oscar Florianus - Red Building with Woman

Is that alright?



Os confrontos d’alma agitam os raciocínios. Vive-se com alguém na mente e tem-se alguém no outro lado da barreira, à nossa espera. No meio deste campo de batalha, ficam fios cruzados e linhas paralelas, de vivências a dois. Há uma falha por registar neste circuito:
- Corta-me esse fio, se puderes. Porque eu não consigo deitar fora o que me prende a ti.

Imagem: Mastroianni, Mark - Shadow and Strings

Navegar


Seguiste-me nessa rota traçada e perguntaste se me podias conhecer melhor. Sorrio a cada alerta que me envias, como um pedido de socorro a um barco naufragado.
Vou recebendo os sinais e envio outros, tal como um farol, para que me encontres e eu me encontre em ti. E com pequenas conquistas, vamos reduzindo o espaço do mar, que nos traz o mistério de encontrar um porto de abrigo, algures perdido por aí mas desejoso que cheguemos lá. Talvez iremos até lá. Talvez...

“Navegar é preciso,viver não é preciso”
Caetano Veloso


Imagem: MUZIS, Robert - Sonniger Tag

2/20/2007

Nowhere warm


Olhou para as malas e deixou-as ali, ao canto da cama. Debatia-se com as roupas, arquitectando o cenário e os encontros em lugares fictícios ou não. Afigurava os sorrisos e sentia o calor que lhe davam pela saudade sentida. Imaginou as pessoas tal como eram, quando as deixou na última vez. Gostava de as relembrar como foram, misturando-as num sentimento de ternura e profunda admiração. Continha na sua alma, aquelas imagens que a coloriam nos escapes do seu quotidiano real. Viajava com elas, pelo desejo de emoções felizes e reconfortantes. Ponderou aquela ideia de partida, afim de findar as saudades do mundo oposto ao seu.
Sabia que não podia voltar atrás, ainda que poderia fazer em relação ao espaço...
Deixou-se viajar, por dentro.

Imagem:Waterhouse, John William - Psyche Opening the Golden Box

2/15/2007

Submersão


Nem os pensamentos guardas, porque esses foram embora sem destino e, neste jogo, não há boomerangs. Puta de vida, quando o vazio que te preenche é já a mobília habitual que conheces bem. (...)
Tinhas que te ir embora, só porque tinha que ser. E eu fico aqui, ressacando na assombração das ilusões que passam nestas paredes, as mesmas, de sempre. Nas ruas por onde passo, vais brincando comigo, escapando-me do meu olhar. Já nem te percebo ou me percebo, quando a imaginação também me invade. Vou te procurando nos outros, porque o desejo de te rever é mais forte do que eu. Pensas em mim? Que se lixe a tua resposta. Fugiste e eu parti do lugar em que me deixaste. Mas levaste uma metade minha e isso faz falta como um raio. E ando aqui nas quedas, porque nestas voltas, a alma vai derretendo o corpo, enquanto tudo me foge. Espalho-me neste chão solto, mas vou fingindo que sou trapezista, só para parecer bem. Mas cá dentro, arde aquele espaço que me levaste, desnorteando os meus sentidos. (...)
É a puta da vida, quando o vazio que tens, nem sempre te pertence: - Tu já és o meu vazio.


Imagem: MACLEAN, Jane - Morning.

2/14/2007

Beauty in the breakdown



Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Vinicius de Moraes - "Ausência"



2/11/2007

"Paixão Turca"


A noite caía como um véu prateado sobre o fim do dia. Desta vez, resolveram entrar no mundo de sensações e sabores marroquinos, quentes com os ventos do deserto. Envolvidas naquele ambiente, dissonante da realidade habitual que confrontavam diariamente, falaram das suas vidas resumidamente. Finalmente, tinham arranjado espaço no tempo para poderem esvaziar a alma. A escolha foi difícil, mas optaram por um chá “Paixão Turca”, dando mais calor à conversa que nascia. A amizade já era de longa data, e riam-se das histórias antigas que cada uma passou. Da bagagem que levavam, encontravam-se estilhaços de tempos vividos, catalogados por tempos e títulos de bom ou menos bom. Estavam ali, risonhas até com as histórias tristes que vinham à memória. – Como tempo passa....- dizia uma delas.
Um pouco mais com os pés assentes na terra, definiam a situação actual das suas vidas, com sabedoria e lucidez.
Sendo sobreviventes, talvez de um destino, conseguiam tirar partido de todas as histórias vividas, tal como a letra da música que soava naquele ambiente exótico. Sabiam o que queriam e para onde queriam seguir. Iam aprendendo com os anos, as lições da vida...

“Sadness and happiness are two paths
To walk on one path, isn't right
Season changes,
Happiness comes,
Sadness goes” *
Imagem: Gassem - Ombre de femme.
* Tradução de "Mausam" - Nitin Sawhney.

2/07/2007

It has to end, to begin



Os pensamentos voam, como se fossem bolas de sabão. Livres.
Cá dentro, há um sopro de vida que me leva para um estado maior de clareza. Reconfortantes são os momentos vividos, passados entre as ruas da cidade que levam a redescobrir um sentimento de bem-estar.
Caminhei sem ser pelos passos, mas pela vontade de matar saudades, daquela emoção nostálgica vivida apenas noutro lugar. Afinal ainda é possível...
Renasci na cidade, que julgava ser somente vivida pelos forasteiros. Segui e sorrindo sozinha por essas ruas feitas com histórias, fui enchendo os pulmões com aquele ar frio de Inverno. Hoje, sou uma nova história e vou com pensamentos que voam como se fossem bolas de sabão...

2/04/2007

Linha traçada



Viajamos porque é necessário
enfrentarmos o desamparo dos dias,
ao mesmo tempo que procuramos
um lugar para descansar
e nele ansiarmos por um regresso.

(Al Berto)
Foto: Pedro Guimarães

2/02/2007

Riding Couple


Sabiam um de outro, em segredo. Passavam as noites contando com o dia seguinte, para se encontrarem no olhar um do outro. Viviam aquela paixão, como garotos um pouco entontecidos com a desordem de sentimentos que prosperava sem aviso. Sentavam-se na mesa, puxando conversa pública mas falavam paralelamente com os olhos. Apreciavam aquela conversa muda em código secreto que só ambos entendiam e podiam decifrar.
Os encontros iam-se moldando às pequenas brechas horárias, que o dia ou emprego destinavam – os seus 15 minutos. As mãos descontroladas, cediam aos impulsos do toque, em malabarismos ritmados que alimentavam o desejo de se conhecerem melhor. Sentados lado a lado e por baixo da mesa, as pernas também cediam àqueles deleites do espírito, fazendo-os pensar que ninguém notava.
Foram muitos os tais 15 minutos até à chegada daquele dia, em que assumiam disfarçadamente todos os toques, apanhando de surpresa os olhares alheios dos mais distraídos.
Queriam-se.
Querem-se.
Esse dia marcou-me. Revi-me naquela história e fui vivendo aqueles passos contigo na minha mente. Fomos crescendo em segredo para depois morrermos com o esmorecer dos dias. Na tua ausência, esqueci-me do teu olhar e o teu toque, perdi-o com o passar dos dias. Fomos os secretos daquela história, os tais que viviam 15 após 15 minutos. Os tais que viviam os momentos e que se encontravam nos olhares. Aqueles, que também se queriam, que se deram mas... que fugiram por medo.
Como eu ainda te quero...
Imagem: Kandinsky, Wassily - Riding Couple.

1/28/2007

Jardim Perdido

"Feel the warm further rise..."
Jardim
em flor, jardim de impossessão,
Transbordante de imagens mas informe,
Em ti se dissolveu o mundo enorme,
Carregado de amor e solidão.
A verdura
das arvores ardia,
O vermelho das rosas transbordava
Alucinado cada ser subia
Num tumulto em que tudo germinava.
A luz trazia
em si a agitação
De paraísos, deuses e de infernos,
E os instantes em ti eram eternos
De possibilidades e suspensão.
Mas cada
gesto em ti se quebrou, denso
Dum gesto mais profundo em si contido,
Pois trazias em ti sempre suspenso
Outro jardim possível e perdido.

Sophia de Mello Breyner Andresen

1/23/2007

The space between us


Sentou-se à beira da janela e observou os carros que fluíam pelas veias da cidade. Absorvia o Sol da tarde que lhe amolecia os pensamentos, enquanto esperava que ele chegasse do trabalho. Aquela seria a nova paisagem que veria do seu novo lar, partilhado com quem mais queria. A sua vida saíra da rotina habitual, mas se calhar para melhor. Gostava de sentir aquele sentimento de um futuro indefinido, a saber a risco. Era um risco calculado, balanceou-se nessa ideia.
Sem ela dar por isso, ele já tinha chegado a casa e sentou-se no chão quente da varanda, junto dela. Olhares cúmplices renderam-se num beijo longo que lhes soube bem. Foi um beijo de saudade pelo tempo que estiveram ausentes. Esse beijo acalmou-a e fez – lhe ver que afinal, o risco era um sabor doce e acima de tudo, desejado pelos dois. Aconchegou-se nos braços dele, inalando o seu perfume e sentindo-se a mulher mais desejada do mundo. Talvez era o Sol que os aquecia naquela tarde de Inverno, ou talvez eram eles, o próprio Sol de Inverno que brilhava mais alto do que qualquer estação do ano. (...)
Ela acordou. Sentiu-se impotente perante a realidade que a engolia. É difícil agarrar um sonho, quando este se escapa por entre os dedos. Sobrava-lhe apenas as sensações num emaranhado de “se’s”, enquanto fechava e abria os seus olhos para a realidade que a fitava. Acordou de vez.


1/16/2007

Fora d'horas

Estava boquiaberta com a notícia que ele lhe deu. Ficou confusa. Aquele dia que ela desejara outrora, tornou-se realidade. Aquele dia, que ela deixou de sonhar porque sonhos são isso mesmo, ilusões grandes, tornara-se num facto real.
A notícia batia-lhe nos seus neurónios e fazia ricochete na alma. Detinha-se. Seria possível voltar a amar alguém que voltara? Esse mesmo alguém, que decide dar uma viravolta na vida e muda de cidade?
Recordava-se das loucuras de há muito tempo, das aventuras à socapa dos olhos alheios em tempos de universidade. Daquele amor proibido e por ser proibido, tinha mais gozo. Fechando os olhos, deteve-se na lembrança daquele romance que desencadeou uma série de fugas para outras cidades, onde as suas mãos se podiam entrelaçar, livres como pássaros.
Como história acabou, já não se lembrava bem, afinal, era uma história arrumada e a gaveta sempre esteve fechada.
Para já, ambos estavam livres. Para ela, incomodava-lhe saber que ele morava na mesma cidade. Para ele, sabia bem começar de novo a sua vida.

Pausadamente, foi digerindo a notícia sem saber bem que tipo de sentimento definir. Apetecia-lhe mudar de cidade. Fugir? Não. Ela também tinha a necessidade de começar de novo, e sim, noutra cidade, de preferência, embalada nas asas de algum outro colibri.


Imagem: KLIMT, Gustav - The apple tree I.

1/15/2007

Let it flow


Saída à noite. Luzes disparadas buscando cantos nos corpos que dançam na pista. Sorrisos soltam-se, gestos se misturam, olhares denunciam-se. É o círculo da noite que se fecha e brota em nós, como se efemeridade tratasse. E é. Buscam-nos essa troca de olhares, esses olhares que nos comem até ao osso. Há outros que querem chegar até à alma e por lá querem ficar.

Nesta vida, nem tudo é só sonhar. Também é acreditar e deixar o sonho desvanecer-se numa bela e nova realidade: a de amar. Até mesmo num cenário diferente daquele que esperávamos, porque estas coisas não escolhem nem o tempo e nem o lugar. Acontecem.

“- So let it flow...”.*
The Strokes - Razorblade


Imagem: MIRÓ, Joan - Swallow/Love.
* Thx U! :P

1/10/2007

Rota


Vamos pela estrada mais leves, mais livres e com um pouco de mais sabedoria. Chegar ao final do dia, com o espírito calmo e vontade de caminhar é um ensinamento do tempo...
O barco tem rumo e os ventos, com certeza, serão favoráveis porque se sabe para onde vai. E onde estou neste caminho, não é um acaso mas um resumo de rotas apontadas no livro da vida. Achei melhor despejar o que já não preciso e atirá-lo para alto mar. Despedi-me do peso, mas as recordações vão sempre aqui: no coração. Esperam-me outros portos por descobrir. E se chegar a altura de ficar, ficarei, porque sabe bem permanecer num porto chamado felicidade. Pois nesta vida há tempo para tudo; só não há tempo para aquilo que não queremos.
- É tempo de partir, de viver e aprender uma vez mais. Por cá, segue-se em frente.

“Forever love
Say you'll love
Diga-me, Diga-me
Tell me so
I can hold you in my soul
If I go
I'll know”



Imagem: WHISTLER, James Abbott McNeill - Symphony in Grey and Green: The Ocean

1/07/2007

Lost hours


Há momentos, em que as palavras doces se tornam amargas. Presume-se que seja a dor que as afecta, que as corta em finíssimas camadas esmiuçando o seu sabor.

Há horas que não param o desafiar dos pensamentos, quando nos falta o que queremos. Horas perdidas? Pensamentos perdidos?
Há olhares que contam essas horas passadas...

Porquê que há merdas que não se esquecem?


Música VAST - "Lost"
Imagem: Shhh, Dezembro 06

1/03/2007

Quase tudo...


O despertador deu início ao dia que se adivinhava ser passado com alguma agitação. Levantou-se ainda ensonada e nem água do chuveiro foi capaz de dissipar aquele nervosismo miudinho de voltar a reencontrar aqueles amigos pequeninos mas que são grandes no seu coração.
Fez as suas voltas, fez um favor a uma amiga e pensou se a mesma era capaz de fazer o mesmo por si. Gostou de acreditar que sim, mas na verdade, são poucos os verdadeiros amigos que estão sempre dispostos a ajudar, independentemente, das suas tarefas diárias.
De volta ao trabalho, foi recebida com fortes abraços dos adultos e muitos miminhos dos tais pequeninos do seu coração. Sempre com grandes sorrisos e de braços enrolados à volta da sua cintura. Diziam-lhe que tinham saudades dela. Palavras para quê?... É tão bom saber que gostam de nós e que sentem a nossa falta, sobretudo, quando sentimos que é mesmo verdade – disse.
As horas passaram rápido e o balanço do dia foi feito com pensamentos e desejos positivos para um ano novo, cheio de trabalho árduo. Os seus objectivos mantêm-se: continuar a dar 200% para atingir uma quase que "semi-perfeição". Provavelmente, seria uma boa ideia para 2007, mudar a sua forma de pensar, no que concerne, às suas exigências - pensou. Porém, a sua forma de estar, não permite deixar as coisas inacabadas ou pouco desenvolvidas. Dá sempre o seu melhor em tudo. Manias da perfeição ou picuinhas? Não interessa - disse. O que vale, é estarmos bem connosco próprios e se gostamos assim, (até mesmo com valentes cabeçadas) porque não continuar? Pelo menos, sabe que ninguém tem nada apontar e se tiver, que se lixe. Continuará a dar o seu melhor em tudo o que se passa na sua vida.
Uma coisa é certa, ela vive tudo e devora o dia, antes que o dia se torne tarde para o tudo que há na vida.
Imagem: DALI, Salvador - The garden of hours

1/02/2007

A Sorta Fairytale


Era capaz de contar coisas que consomem a alma nestes dias. Até era capaz, de expressar novamente o que disse ou o que fiz. Mas, a linha da mente esbarra sempre com a do coração fazendo, por isso, entoar ecos soltos no vazio deste espaço. São estilhaços lancinantes que ferem cada sentido que trago comigo. Por isso, sento-me aqui, tentando permanecer inerte ao movimento dos impulsos ardentes que se detêm, nesta condição tão pouco definida. Fujo dessas linhas que, sei que se tornarão labirintos infinitos com receio aparente de me perder e esquecer onde estou. Esses dois lados opostos - razão ou emoção - tornam-se loucos quando vividos distintamente e, acima de tudo, intensamente. Despontam vícios que se criam na mais pura ingenuidade do sentir, do querer, do estar ou do ser.
Eu sei, que era capaz de me sentir tentada a viver novamente naquele lado mais perto do coração. Dizem que, as suas ruas são alegres e fazem bem à alma e ao corpo. Não sei bem, se é um sítio paradisíaco ou um lado definido por aqueles que temem ou então, um lado indefinido por aqueles que não têm medo de arriscar. Se calhar, até são ambas as coisas.
Mas custou-me fazer as malas. Era tão bom se pudesse ficar nesse lado -
A
G
O
R
A
- resido no intermédio do sentir e do pensar. Tenho asas mas não consigo voar.
Magoam-me.
Imagem: BRAUNER, Victor - Chimére.