7/25/2007

Viagem



Levou na memória aquele tempo interdito, aquele tempo destinado à reflexão que a consumia em momentos. Vagarosamente, continuou numa caminhada desalinhada, sem planos, sem projectos para um futuro, porque esse que ousara sonhar, sabia-lhe a um recente sabor amargo, entranhado no seu coração...
Vivia então, numa balança indefinida de emoções, que desejava esquecer. Esquecer.
De bagagem arrumada, retornava ao sítio do seu coração, buscando consolo nos braços dos amigos que nunca a esqueceram e que sempre a mimaram. Necessitava daquelas emoções fortes que a fariam pensar e ver a sua situação actual com outros olhos e com mais clareza. Buscava o conforto, o alimento para a sua alma.
Voltar diferente. Talvez um pouco mais despreocupada, um pouco mais imperfeita. Um pouco mais livre na sua maneira de pensar. Voltar a si.

Imagem: Johannes Vermeer - The Girl with the Pearl Earring


7/16/2007

Love with tongues of fire

(Viver o amor, é também construir alicerces para um futuro seguro. É acreditar que chegarão lá, mesmo com tempestades e tormentas.)
Descaiu-se nas palavras como quem cai pelas escadas. Saíam a medida que a alma ficava-lhe mais leve e mais triste. Não sabia ao certo, se aquele alívio lhe iria trazer um novo peso: o da tristeza.
Com o coração preso à garganta, repetia vezes sem conta, a vontade de tornar tudo mais diferente, mais calmo. Eram situações que já tinha vivido no seu passado, experiências que, se calhar, foram pouco aprendidas.
Ficava um pouco vazia de si; ansiava aquelas palavras proferidas do outro lado, como quem anseia água num deserto.
Eles seguiam vidas juntas, com formas de viver separadas. O que será que fizeram dos seus sonhos? - Refugiaram-se, talvez, no medo de um futuro...

Chegou ao final do caminho ou talvez de uma encruzilhada, descaiu-se nas palavras como quem cai pelas escadas... Será que se salva ou morre nas suas palavras?
Imagem: Munch

7/07/2007

Sinais

Há um sonho que se desfaz com as passadas do tempo – dizia ela. Mergulhava nele e contornava-o com risadas de outros tempos, envoltos na loucura fervilhante da paixão. Esquecia o tempo de agora, como que embriagada propositadamente.
(...)

Poderia ser só os hábitos ou as rotinas que a faziam descair até ao patamar mais baixo que conhecia: o da solidão.
(...)

Queria dizer-lhe alguma coisa, talvez ele a pudesse tirar de lá, mas havia palavras que ela própria sabia que não deveria de as dizer. Há que saber ler as pessoas, pensava.
(...)

Talvez seja mesmo assim: o amor vai morrendo lentamente, quando as suas linhas não são lidas continuamente...