Olhava para si tentando compreender os truques que a vida exibiu. Os anos em que demorou nessas indagações foram uma faca de dois gumes. Se por um lado tentou encontrar as razões dos porquês que a vida deu até então, por outro, o tempo tirou-lhe o presente que tinha.
A data tinha chegado. Acordara de madrugada, logo no início do dia: aquele. Era o dia em que, mais uma grande amiga partia. Como ela detestava as despedidas, melhor, como ela entendia perfeitamente o que são as despedidas! Era a terceira melhor amiga a ver partir e isso custava-lhe o peso do mundo.
Reagiu. Repito: Reagiu.
Foi a vida que a acordou daquele estado introspectivo, que, de tanta reflexão chegou a ter pena de si própria. Dizia que a vida era tramada.
Aquele despertar, não consistiu apenas na vontade de mudar para algo totalmente diferente, mas sim, aceitar simplesmente aquilo que tinha. Deixou-se de merdas, portanto.
Brigou consigo à frente do espelho, como se fosse uma mãe a dar um castigo ao filho. Era a vida a dar-lhe uns valentes tabefes. Reagiu imediatamente.
Em poucos minutos, ela resumiu-se:
- Há quem siga em frente e há quem fique sempre parado pensando que se trata de uma pausa.
Reagiu, pois sim, avançando.
Imagem: Pablo Picasso, Woman at the Window.