9/05/2007

Silent hands


Lentamente, pousava os olhos na palma das suas mãos. Talvez esperasse ver mapas que a levassem voar para sítios reconfortantes, semelhantes a ideias melosas a saber bem. Daquelas mãos, vinha-lhe à memória outras mãos que a seguraram no calor dos momentos. Recordações no baú da história que um dia ganharão pó, consoante a caminhada a seguir na calçada da sua vida.
Mas aquelas mãos estavam cheias de nada, soltas e descaídas no vazio arrepiante daquele momento, o único, que a segurava.
Sofregamente, entrelaçava os seus dedos, fazendo distorcer, por momentos, a realidade que a fitava com demónios chamados de solidão. Era aquela ausência, o intervalo do tudo que sentia, que a devorava, desprovido de qualquer sentimento de piedade. Como era difícil suportar a dor daquela queda, oriunda de tanto amor?
Restava-lhe o tempo dos afectos feridos, espalhados por tudo quanto é chão. Era o tempo de tanta coisa interdita, traçado em cada linha das suas desamparadas mãos.

All these people drinking lover's spit
Swallowing words while giving head
They listen to teeth to learn how to quit
They take some hands and get used to it
(…)
You know it's time
That we grow old and do some shit
I like it all that way
I like it all that way*


*Feist -
Lover's Spit
(Broken Social Scene).

3 comentários:

João disse...

Aproveita o intervalo e respira fundo. As emoções estão aí ao virar da esquina ;)
Bjs

AR disse...

Gostei muito. Mesmo muito.
E espero que entretanto tudo esteja mais leve.

Shhh disse...

Ar,

Risos!... Tudo bem mais leve!:)
Obrigada!